quinta-feira, 15 de março de 2012

Fragmento do caderno do cárcere Nº 11, 1932-1933, Antonio Gramsci. Nota III.

Se for certo que toda linguagem contem os elementos de uma concepção do mundo e de uma cultura, também será certo que pela linguagem de cada um pode-se julgar a maior ou menor complexidade da sua concepção do mundo. Quem fala só um dialeto ou compreende a língua nacional em graus diversos, participa necessariamente de uma intuição do mundo mais ou menos restrita e provincial, fossilizada, anacrônica em comparação com as grandes correntes do pensamento que dominam a historia mundial. Seus interesses serão limitados, mais ou menos corporativos ou economistas, não universais. Se não é possível sempre aprender tais línguas estrangeiras para ficar em contato com vidas culturais diversas, é preciso ao menos aprender bem a língua nacional. Uma grande cultura pode traduzir-se na língua de outra grande cultura, ou seja, uma grande língua nacional, historicamente rica e complexa, pode traduzir qualquer outra grande cultura, sendo uma expressão mundial. Porem um dialeto não pode fazer o mesmo.